Patchwork moderno ou patchwork tradicional, eis a questão?

Muitas vezes recebo perguntas sobre o patchwork que eu faço, se esse é o moderno ou o tradicional e isso me faz pensar o quanto estamos longe ou perto de um trabalho intuitivo ou mecanizado, se trabalhamos com repetição, com cores, com escassez ou mesmo com os tecidos mais caros do planeta. Onde está o patchwork em si, a essência da técnica  e os trabalhos artísticos de milhares de reais feitos com a linha xyz, os tecidos abc e a máquina com 500 pontos da marca tal. Reflexões, aquele momento para parar tudo e pensar, quem sou eu na fila do pão, quem eu quero ser e qual o intuito do meu trabalho, faço isso por mim, por ti, para quem? Vocês nunca pensam assim?

 

Aqui, no meu atelier, decido minhas atividades baseada na minha convicção, obviamente. Mas procuro utilizar sobras de tecidos que são recolhidas diretamente nas indústrias de confecção. É lixo? Não. É reaproveitamento. Tudo que sobra na confecção é chamado de resíduo têxtil e resíduo tem um certo tom pejorativo não é mesmo? Muito pelo contrário, é um tecido limpo, nunca utilizado anteriormente. Ele sobra na confecção, de alguma forma e é dispensado, normalmente comercializado com estabelecimentos que fazem essa interface, entre indústria e consumidor final. Tem valor mais acessível, é um material que quando comercializado não vai aumentar o descarte (correto ou mesmo incorreto). Ou seja, vários fatores muito positivos estão envolvidos nesse contexto.

 

Mas vamos voltar ao início do início.” Patch” são pedaços de tecido, “work” é trabalho. São palavras em inglês que literalmente trazem a definição de trabalhos com pedaços de tecidos. Que tecidos? De que forma? Com que finalidade? Com qual objetivo? Tudo começa numa época de escassez, nos EUA, onde sacos de tecidos de algodão que transportavam alimentos eram usados para costurar roupas e mantas. Eram lavados, recortados para tirar falhas e unidos para formar pedaços maiores que atendessem uma determinada necessidade. Assim começava o patchwork. Do passado à modernidade existe uma linha do tempo com muitos eventos.

 

Blocos repetidos ao infinito para construir peças maiores, coloridos ou tingidos foram usados para construções de peças, podemos elencar vários blocos tradicionais criados com o intuito de utilizar os menores pedacinhos que sobraram para evitar o prejuízo.  Patchwork, trabalhando pequenos pedaços de tecido, criou vida, vulto e importância. Vale lembrar que estamos falando numa época de escassez de recursos em geral. Aqui no Brasil, no interior, temos muitas lembranças das mantas de chita, ou colchas de retalhos, coloridas, das nossas avós. Aqui no sul, no interior das colônias,  ainda é muito comum, usarmos a lã das ovelhas para fazer cobertas, cobertas estas que eram quiltadas com o objetivo de distribuir a lã de forma uniforme, para que ela não “andasse” dentro da colcha. Não podem ser  lavadas, são usadas com uma espécie de fronha gigante, hoje em dia chamado em lojas mais sofisticadas de duvet e colocadas ao sol para espantar o mofo, usando o sol como agente higienizador. São quiltadas? São, mas era um quilt funcional, não artístico e assim, tanto o patchwork quanto o quilt foram se aprimorando.

 

O que eu vejo no patchwork moderno é que existe um maior grau de liberdade na criação. Mistura de blocos, painéis, cores, quase um grafismo e com estes painéis prontos, a elaboração de peças em geral, almofadas, toalhas, panôs. Bem vinda a liberdade de expressão artística e funcional. Mas a união de pedaços de tecido, ainda é a mesma, o patchwork é o mesmo, só que mudando as cores e tamanhos. A essência é a mesma. Bem vinda a liberdade de expressão, a fartura de possibilidades, as variadas opções de tecido disponíveis, lojas virtuais com preços acessíveis, lojas com tecidos zerinho, nunca usados,  e também, lojas com tecidos para reuso. O que vale é utilizar a técnica e contar a sua história de sucesso. Não existe tecido feio, de uma forma ou outra é sempre possível combiná-lo para contar uma nova história. 

 

E para você que está começando no mudo do patchwork, fique tranquila, dê a partida naquele projeto que há tanto tempo você imagina. Tem máquina de costura? Ótimo. Não tem? Procure por lojas que consertam máquinas de costura na sua região, sempre tem máquinas em bom estado, revisadas e com preço bem acessível. Uma máquina antiga funcionando bem vai fazer o mesmo trabalho ou até melhor, que uma moderna cheia de pontos decorativos, trabalho neste caso é o costurar pequenos pedaços de tecido. Gosto de comparar uma máquina de costura com um celular. A máquina precisa costurar, o celular precisa ligar, o que vem junto à mais, é bônus quando estamos iniciando. Depois que você pegar o jeito, se acostumar, você ainda pode decidir se vale a pena investir numa máquina melhor conforme a tua necessidade, para costurar tuas peças em patchwork..

 

Arrisque, ouse, combine tecidos, faça peças menores, uma bolsinha, necessaire, um bandô para a janela da cozinha, uma almofada. Todas são peças que denominamos peças feitas em patchwork.  Tudo é início de uma nova experiência. Não importa se é patchwork moderno ou tradicional, não se preocupe com isso. Apenas comece! Deixe sua criatividade aflorar! 

 

Patchwork moderno ou patchwork tradicional, onde está o limite? Patchwork moderno, patchwork tradicional... Liberdade de expressão e criatividade!

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Reaproveitamento de flanelas de camisas para criação de uma nova peça. Patchwork moderno ou tradicional? É patchwork, é criatividade, é liberdade de expressão, é reuso de tecidos, é ecologia!Reutilização de flanelas de algodão na confecção de uma manta em patchwork, que delícia de trabalho!

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Reaproveitamento de flanelas de camisas!

 

Dentro deste mundo de patchwork, sempre vai ter o lado artístico, talvez até assustador pelos tecidos caros e técnicas aprimoradas e vai ter o lado funcional, prático, de uso diário, de reaproveitamento, da criatividade, da liberdade de expressão. Apenas comece, é fácil, motivante, terapêutico! Nosso mundo precisa de pessoas mais ativas, mais criativas, mais participantes, mais responsáveis! Não importa muito se é patchwork moderno ou patchwork tradicional, para você começar.